quinta-feira, 27 de setembro de 2012

MÚSICA BOA É RUIM



   Na primeira poesia do primeiro livro de Carlos Drummond de Andrade há um verso que diz: "Quando nasci,  um anjo torto, desses que vivem na sombra, disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida". O que seria da arte sem o talvez? Ser gauche é ser errado, torto. Reformulo: o que seria da arte sem o errado e o torto?
Bebemos bastante, maltratamos o fígado, juntamos amigos e vamos prosear na lapa, capital boêmia.
- essa é a primeira música... (uma do Djavan)
Para agitar um Jorge ben, para os bacaninhas um Caetano, um samba rock chinelada na barata dela, muito carioca, puxando bem o "Sh".
Quando era mais novo tinha uma banda de Heavy metal, iamos aos locais em que bandas tocavam.  Cover daquilo, cover disso, não tinha jeito, quando tinha uma banda autoral era comum o dialogo:
- Como é o som deles?
- é tipo likin park (Tipo likin park...Ainda bem que isso acabou.)
Hoje em dia ir num show e a banda não tocar suas músicas é desapontador. As orelhas estão em pé para o novo, a nova frase, o novo som. eu também estou.
Mas não me venha com música boa
Música boa, bem tocada, com a voz bem colocada é muito chato, que me perdoem as cantoras afinadas de samba. Como dizia o poeta: o fundamental na arte é o fator Gauche, a possibilidade do erro, o grito pelo ruído, a nota fora por escolha.
Quando se ouve dizer que Thelonious monk, Nelson cavaquinho,  Novos Baianos não se comparam aos medalhões atuais é porque todos estes permitiam, como na filosofia de Sócrates, que a dúvida lhes norteasse e que a arte permitisse o fator Gauche.
Vamos nos entortar meu povo, arte sem superação é café frio.  Tem gente que faz música mais velha que a nova do Djavan.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012